Sempre gostei de exercitar a mente, principalmente quando o assunto é…o que me vai no raio da cabeça!
Há uns anos atrás, depois de uma adolescência conturbada (pronto, neurótica mesmo!), cheguei a uma fase da minha vida em que estava no meu limite de infelicidade e decidi pedir ajuda. A gota de água foi a morte de um dos meus gatos, que era como que, de alguma forma, um elo que me ligava ao meu pai. Antes de ser eleita por ele, o gato, (sim, porque os gatos é que escolhem os donos), era o meu pai o seu “dono”. Depois do meu pai falecer, aí o Gary (the cat) elegeu-me a mim como sua companheira. Ele era para mim um pai, um filho, amigo, irmão…era tudo para mim (tinha um feitio desgraçado, mas isso não interessa para o caso).
Depois da terrível decisão de o deixar partir, tinha eu uns 20 e tais anos, chegara assim ao meu limite de tristeza…não queria mais sentir-me assim miserável. Fui ao meu querido médico de família e disse “Dr., preciso de ajuda, quero ir a um psicólogo!) E lá fui. Não por ter estudado psicologia, área que adoro, mas porque acho que os psicólogos são como os animais de estimação…ou seja…todos devíamos ter um 🙂 . Não precisamos de estar com problemas. Podemos estar bem e felizes e ainda assim, ir ao psicólogo, pode revelar-se uma experiência extremamente reveladora, construtiva.
Claro que, como em tudo na vida, é preciso ter sorte no psicólogo que escolhemos ou que “nos escolhe” mas ter alguém que não nos conhece, não nos julga e é imparcial no que toca à nossa vida é libertador. Eu tive imensa sorte. Era uma psicóloga do centro de saúde mas, o que me ajudou a crescer e principalmente a conhecer-me foi e é ainda hoje extraordinário. As consultas eram muito giras…e avassaladoras ao mesmo tempo. Basicamente vamos lá para nos partirmos todos, para nos desconstruirmos, porque só assim conseguimos renascer e reconstruirmo-nos novamente. Apesar de saber que não estava bem, não conseguia dizer com clareza o que me apoquentava, simplesmente não sabia. Só sei que no primeiro dia em que entrei naquela sala e ela me perguntou “Então Sofia, o que se passa?” queimei 45 minutos da consulta a chorar baba e ranho sem conseguir sequer dizer uma palavra eh eh.
As consultas era interessantes porque eu entrava, começava a falar, fazia perguntas, dava possíveis respostas às minhas perguntas e chegava às coisas por mim. Ela só dizia que eu era a melhor “paciente” dela, fazia o trabalho todo sozinha (aposto que dizem isso a todos os pacientes ih ih), mas sabia-me muito bem. Numa dessas sessões, ela lançou-me um desafio (entre muitos outros), completar uma história. Era a história “Uma boneca de Sal”. Nunca tinha ouvido falar desta história e, como escrever era a minha “praia”, aceitei prontamente o desafio.
Este texto de hoje é uma homenagem às minhas amigas e amigos psicólogos. Minhas caras e meus caros, matem-me a curiosidade e partilhem comigo o que interpretam da minha história (isto é uma técnica excelente para ter uma consulta de graça ah ah). Na altura, definitivamente não entendi o que escrevi mas hoje, claramente consigo interpretar o “eu” que vejo espelhado neste texto. É nisto que dá guardar papéis antigos…aqui vai um tesouro de papel.
Escrevi esta história duas vezes. Hoje, partilho a primeira versão, datada de 02/06/2003
“Uma boneca de sal percorreu milhares de quilómetros à procura do mar, que queria muito conhecer.
Quando finalmente o encontrou, olhou fascinada aquela massa imensa e perguntou:
– Quem és tu?
E o mar respondeu
– Entra e verás.
Então a boneca…”
inicia a sua caminhada para ir de encontro ao mar. Porém, quanto mais andava, mais sentia um calafrio a percorrer-lhe o corpo e, ao sentir a areia molhada, dá um salto para trás, como que por impulso, e disse ao mar:
– Tanta foi a vontade de te conhecer, e agora, que estou a um passo de o fazer, algo me diz que não devo ir ter contigo. Porque razão será?
E o mar diz-lhe
– Segundo me parece, és uma boneca de sal, e eu sou composto de sal. Talvez, se vieres ao meu encontro, acabes por deixar de ser pois irás diluir-te no meu mar imenso”.
A boneca, triste e assustada, recuou mais uns passos. Desiludida, pois queria conhecer a sensação de estar no mar, sentou-se em frente ao mesmo e meditou, meditou, meditou.
De repente, levanta-se num salto e exclama:
– Mar, para eu te conhecer, não preciso de te sentir. Percorri um longo caminho e não vou voltar para trás apenas por não te poder tocar. Fala-me de ti, conversa comigo, ensina-me e mostra-me aquilo que conheces.
E o mar assim fez. E ficaram longos dias e noites a conversar, a trocar experiências e sabedorias e daqui saiu uma linda amizade, apenas pelo diálogo.
Sem nunca se terem sentido fisicamente, sentiram-se, no entanto, intima e interiormente, fazendo nascer uma ligação, a qual, nem o mar, nem a boneca de sal, jamais esquecerão.
E voilà… é no que dá sugerir a criação de histórias a uma jovem de 25 anos…
???? A escrita é um espelho da alma.
Gostei.Muito! Os teus textos vão-me ajudando a conhecer a minha filha. O que vem provar que ,realmente,santos da casa não fazem milagres…:-)
Beijo grande.
DIDO! <3
Tanto lembro que foi por isso mesmo que coloquei essa ressalva…ehehe. Hmmm, obrigado? ah ah. Foi e é um prazer e uma honra ter-te na minha vida meu amori <3
Bonito texto! Gostei! E até me fizeste rir, quando disseste que “é preciso ter sorte com o psicólogo que escolhemos”… lembraste da minha? Que adormecia durante as sessões enquanto eu partilhava os meus mais profundos problemas e dores, na fase mais conturbada e desesperante da minha vida? Já para não falar que a Sra. (de uma idade já bastante avançada) era tudo menos imparcial e “não julgadora”. Enfim, foi azar mesmo. Tenho pena de não ter encontrado um profissional mais competente e que pelo menos não adormecesse entre as minhas palavras e lágrimas de dor. LOLOLOLOL. Valeu-me uma grande amiga minha, que me aturou inúmeras “sessões” e me ajudou mais do que ninguém a ultrapassar o momento mais negro de toda a minha vida. Tu sabes quem é… A essa excelente psicóloga o meu eterno “obrigada”!